
A comunicação, quando usada de forma estratégica, se torna um diferencial no autodesenvolvimento. Uma das metodologias mais potentes de conversação e que traz profunda expansão de consciência e evolução é o diálogo.
Uma vez que os participantes se comprometem e se entregam à dinâmica do diálogo, encontram uma surpreendente ferramenta de autoconhecimento e reforma íntima, pois a atitude de escutar (aos outros e a si mesmo) e falar traz à mente muitos insights, ou seja, respostas de questionamentos íntimos que resultam em desenvolvimento pessoal e relacional.
Os diálogos geram conexão entre as pessoas, expansão de consciência, conhecimento e vínculos. Aprimoram a empatia, a colaboração, a solidariedade e o espírito de grupo. Geram pertencimento e o sentimento de importância e valor pessoal. Portanto, os seus ganhos se tornam imensuráveis e ilimitados.
Comunicação: problema x solução
Pela minha experiência profissional como mentora e coach em atendimentos individuais e em grupo, percebo que a comunicação é o principal problema e a solução nas relações humanas. A grande maioria das pessoas está disposta a falar, mas raramente se dispõe a escutar, seja a si mesma ou aos outros. O piloto automático na comunicação está presente em grande parte dos grupos de fala; por isso, ninguém sai melhor, nem cresce, nesses encontros.
Para fundamentar a importância do diálogo, em primeiro lugar, precisamos alinhar os nossos conceitos sobre o que se trata essa metodologia. A palavra diálogo deriva de duas raízes: dia, que significa através de, e logos, que significa palavra, ou, mais particularmente, o significado da palavra.
Como a própria natureza diz, o diálogo tem o propósito de revelar e evidenciar os significados interiores e coletivos mais profundos de seus participantes. Ele é como uma dança coletiva livre que, uma vez iniciada, torna-se uma aventura contínua que pode abrir caminho para uma mudança criativa e cheia de aprendizado para aqueles dispostos a dançarem.
Podem-se envolver tantas pessoas quantas se queira no diálogo e, inclusive, pode-se até dialogar consigo mesmo. No entanto, é importante destacar que não há lugar, no diálogo, para hierarquias profissionais. Os líderes são participantes como quaisquer outros. A liderança, quando for necessária, deve liderar nos bastidores e preservar a intenção de ser dispensável assim que for possível, mantendo, assim, a soberania e harmonia do grupo.
Diferenças entre diálogo, discussão e debate
O diferencial do diálogo é ser abrangente, cíclico e flexível, o que permite o uso de outros tipos de metodologias de conversa, como as discussões e os debates. Essas formas de conversação contêm uma tendência implícita de chegar a um acordo, tentar resolver um problema e, algumas vezes, fazer a própria opinião prevalecer.
O debate ocorre quando são apresentadas ideias; já a discussão aprofunda um tema específico para ampliar o entendimento. Ambos serão recursos de fala que vão aprofundar o diálogo, permitindo que as pessoas pensem juntas e compartilhem os conhecimentos que surgirem da interação, sem tentar analisá-los ou julgá-los de imediato, com abertura para criar e aprender em conjunto durante a interação.
Lembre-se, não é sobre quem dá a última palavra ou está com a razão. É sobre o grupo, em união e colaboração, construir conhecimentos e significados que transformem a todos.
Cada participante, com isso, tem a oportunidade de estar em contato e poder examinar os seus preconceitos, padrões de comportamento, pensamentos, opiniões, crenças e sentimentos, bem como refletir sobre os papéis que desempenham. E o diálogo oferece a oportunidade de compartilhar esses insights, que se tornam ricas partilhas e contribuições ao pensar individual.
Não se pode estabelecer regras rígidas para a condução de um diálogo, porque ele é essencialmente aprendizagem entre pessoas que buscam autodesenvolvimento. Os autores David Bohm, Donald Factor e Peter Garrett defendem que, para que o diálogo cumpra o seu propósito, é preciso que haja a suspensão de pensamentos, impulsos e julgamentos. Isso não é fácil de atingir, porque é, ao mesmo tempo, sutil e pouco familiar, mas possível quando praticado.
A atitude de prestar atenção aos nossos pensamentos e emoções enquanto conversamos, ou durante a fala dos outros, sem reagir, entretanto, a esses estímulos, desencadeia uma catarse profunda dentro da consciência, ao ponto de nos permitir dar-nos conta de comportamentos e padrões de pensamentos tóxicos e limitantes. E isso pode gerar grandes transformações e conhecimento, se estivermos dispostos a mudar.
Por tudo isso, a comunicação é sempre um convite a um mergulho dentro de nós mesmos a partir do outro e dos sentimentos e emoções que ele desperta em nós. E o diálogo em grupo é uma ferramenta simples, acessível e altamente eficaz para o desenvolvimento humano.